Estamos no início de agosto, tradicionalmente conhecido como o “mês das missões”. Recentemente, várias pessoas no Brasil têm me perguntado sobre o andamento da obra missionária na Espanha e em outros países da Europa, principalmente neste momento de crise econômica. A pergunta que muitos me fazem é se agora com a crise econômica os europeus ficaram mais abertos ao evangelho.
De fato, em vários países da Europa a crise econômica tem sido sentida de forma muito mais intensa que em outros países do continente. Não sou economista ou analista político para saber avaliar adequadamente todo o contexto da crise europeia, mas olhando para o que ocorre com as pessoas podemos constatar facilmente que há uma alta porcentagem da população no desemprego, outros tantos perdendo suas casas por não terem condições de pagar o financiamento e outros ainda tendo sérias dificuldades de por comida na mesa para sua família. E o pior, dizem os analistas, ainda está por vir!
E as igrejas? Estão crescendo nestes momentos de crise econômica? Não tem sido o crescimento numérico a todo custo (justificando assim qualquer estratégia que seja) o único elemento que aponta para o sucesso no ministério e para a presença da bênção de Deus?!
De fato, ouvimos histórias de igrejas que crescem em meio à crise. Temos até acompanhado alguns casos... Trata-se, em sua grande maioria, de igrejas neo-pentecostais que distribuem alguns alimentos entre as populações de imigrantes asiáticos e africanos, e que prometem empregos, passaportes europeus e até mesmo casamentos arranjados com nacionais para conseguir-se um visto de permanência. Pregação do evangelho? Discipulado, ética e mudança de vida? Compromisso verdadeiro com Jesus Cristo? Essas coisas passam muito longe, mas tais igrejas andam crescendo!
Outro fenômeno muito mais comum em plena crise econômica europeia é o decréscimo numérico das igrejas. Bom, estamos falando da dimensão “numérica” logo de início, porque sabemos que é o que realmente interessa à maioria... E não há como falar de crescimento, sem mencionar a realidade do decréscimo. Já que a maioria das igrejas evangélicas europeias é formada por estrangeiros que imigraram em busca de empregos, no momento em que tais empregos desapareceram, estes irmãos retornaram aos seus países de origem (incluindo muitíssimos brasileiros). O resultado imediato desse fenômeno foi o decréscimo no numero de membros e dos parcos recursos econômicos das igrejas. Muitos missionários e pastores nacionais que lutaram ao longo de vários anos para chegarem a ter 35 membros, estão vendo suas igrejas ficarem reduzidas a um terço ou um quarto devido à crise econômica.
Muitos desses missionários e obreiros nacionais estão se sentindo fracassados e desanimados, tanto pelo árduo esforço de anos e décadas de trabalho, como por saberem que em suas igrejas de origem já o consideram como realmente fracassados por não oferecerem um relatório triunfalista recheado de números. Temos nos encontrado com vários deles, insistindo no fato de que a obra está nas mãos de Deus e que o seu Espírito é quem abre os corações verdadeira e eficazmente para o evangelho. Temos ouvido pacientemente e orado com esses obreiros. Precisam de ânimo e alento.
Mas, e os europeus, não estão buscando mais a Deus em meio à crise? Sempre encontramos aqueles que se voltam ao “espiritual” quando as coisas apertam, mas no geral os europeus estão tão convencidos de que Deus está realmente morto, que estão se voltando ao esoterismo, bruxaria e algumas religiões do período pré-cristão. Em muitos outros casos, o suicídio tem sido a opção. Inclusive para muitos adolescentes. A espiritualidade cristã não é a opção da maioria dos europeus; ao contrário, o cristianismo (seja o catolicismo, seja o protestantismo) já é classicamente considerado como o grande responsável pelo atraso humano, pelas guerras, destruições, torturas e genocídios.
Parece que a crise econômica não afetou em cheio a dimensão espiritual da vida na Europa, como muitos previram que ocorreria. A reação dos europeus ao cristianismo e à mensagem do evangelho de Cristo continua a mesma de antes da crise. E tendo em vista que as igrejas evangélicas europeias são formadas por uma maioria de estrangeiros imigrantes, o retorno de muitos a seus países de origem parece colocar em relevo a real situação da igreja europeia.
Mas diante desse quadro, é hora de desanimar? É hora de transferir os missionários para outros continentes que dão um maior “retorno numérico”? É hora de deixar de enviar mais obreiros aos países da Europa? É hora de diminuir ou estancar os investimentos econômicos feitos na obra missionária europeia?
Obviamente, por compreendermos que Deus é o “Senhor de toda a terra e de tudo o que nela existe” (Sl 24.1), e por crermos que Cristo recebeu do Pai, por sua ressurreição “toda a autoridade nos céus e na terra... por isso, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os... e ensinando-os...” (Mt 28.18-20), a respostas a estas perguntas é NÃO. Não é hora de desanimarmos! Não é hora de deixar de enviar obreiros e recursos para a obra missionária na Europa!
Hoje, neste exato momento, há pessoas sendo contatadas pelos missionários e por membros das nossas igrejas na Europa, há muitos cristãos orando por seus parentes, vizinhos e amigos não-crentes, há igrejas realizando atividades evangelísticas por todo o continente, há europeus se preparando para servirem como pastores e missionários em seus próprios países e em outros, há boa literatura cristã sendo produzida e distribuída, há pessoas sendo discipuladas individualmente, há famílias comprometendo-se com o evangelho de Cristo, há jovens dedicando suas férias de verão para evangelizar nas praias.
Hoje, neste exato momento, a obra missionária na Europa precisa de mais obreiros bem preparados e devidamente enviados, precisa de igrejas e cristãos brasileiros que invistam parte de seus recursos na manutenção de missionários, de obreiros europeus e na manutenção das igrejas, precisa de um grande contingente de crentes que se comprometam a orar diariamente por esta obra.
Estamos em agosto, o mês das missões! Nosso desejo e oração é que ao longo deste mês muitas igrejas, famílias e pessoas se comprometam a caminhar junto aos que se dedicam a levar o evangelho aos povos europeus. Que Deus nos dê a todos um abençoado “mês das missões”!!
Rev. Carlos del Pino
Base Europa - APMT/IPB
6 comentários:
Um bom Diagnóstico, reverendo.
Djaik
Rev. Del Pino, realmente as dificuldades serão muitas em relação a questão econômica na europa. Mas como o senhor mesmo colocou, tudo pertence a Deus que é o Senhor soberano sobre todas as coisas. Por isso devemos permanecer firmes e investindo na obra missionária na Europa. Um grande abraço e conte conosco nas orações e nas contribuições.
Muito bom! Vou compartilhar.
Excelente! rev. Del Pino.
Estou orando por vocês, gostaria de ser uma missionária na Europa mas ainda estou buscando de Deus esta resposta de onde serei missionária. Qeu Deus use vcs muito.
Janaína Vieira - Presbiteriana de Arujá/SP
Lembro-me quando sendo treinado pelo Rev. Carlos del Pino, em uma de suas aulas, demonstrei um pouco de tristeza quanto a "resposta" dos europeus frente ao evangelho pregado, e o del Pino me deu o seguinte conselho: "Flávio, estamos plantando, e tem frutos que provavelmente nem estaremos vivos pra ver". Devido ao longo prazo de certas ações evangelísticas. Mas pra me animar, ele completou: "Mas tem um frutinhos que vemos em vida". Para o pregador, passador da mensagem salvífica, é gratificante ver pessoas se convertendo a Cristo. Mas o mais importante é a alma salva para a glória eterna. Abraços e saudades do casal Rev. Carlos del Pino e Rosa del Pino (maior chef da culinária brasileira/espanhola de Torrelodones). Abraços, dos irmãos, Flávio e Fabiana Gomide. Igreja Presbiteriana Central de Uberlândia.
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